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Os dados que se seguem, foram tirados do livro do antigo conselho de Mondim da Beira

Almofala” palavra de origem árabe que significa “arraial militar” ou “acampamento“.

Almofala, que é sede de freguesia, fica na margem direita e ao lado do rio Barosa, entre a serra Mourisca e o outeiro do Moínho.

A freguesia de Almofala fica na serra, e pelos seus costumes (casas de colmo, capuchas, canastros ou espigueiros para os cereais), e pelo seu viver arcaico e patriarcal, constitui um rincão á parte, mais do domínio da Etnografia, do que do da História. Os Serranos (era assim que no conselho os conheciam) só acordavam para a vida histórica, quando o fisco lhes batia á porta, ou em ocasião de eleições, em que iam para a urna, congregados e guiados pelo Pároco.

Almofala cria nas suas cercarias muito gado lanígero e vacum, e vende para fora muita lã, com quanto na localidade não seja fiada nem tecida para o burel, que da mesma se tece (longe da povoação) e que nos povos dali se emprega muito para o vestuário.

O pão de que se servem os de Almofala é não só de milho, mas também de centeio e de cevada, este ultimo sobretudo em crises de falta dos outros cereais.

O uso da capucha em mulheres e homens. É semelhante a um manto da Sardenha, usado nas montanhas contra o frio e a humidade, chamado gabbánu; o capuz denomina-se de vários modos, e entre eleskugûddu, palavra que veio do latim cucullus, capuz ou capelo. O cucullus nos Romanos era fundamentalmente uma peça de vestuário solta, com que os caçadores, aldeãos, viajantes, almocreves, e todos aqueles cuja profissão os expunha a intempéries, cobriam a cabeça: corresponde-lhes a carapuça, o carapuço, ou o barrete dos Portugueses; mas podia aderir a um manto, tal como sagum, lacerna, etc., que por motivo se chamava cucullatus,-a,-um. O cucullus foi introduzido em Roma pelos povos do Norte; fabricava-se na Galia, e na Dalmacia, onde teve origem. É possóvel que para cá viesse dos Romanos, porque o estar acotoada em serras, cuja vida tem caracter de aspecto primitivo, não basta para se declarar que ela seja de facto primitiva. Circunstâncias especiais (locais, etc.) fazem muitas vezes que coisas, que provêm da civilização propriamente dita, estacionem, e fiquem depois de certa época em contraste com os progressos desta. Em todo o caso as coisas, que, nã sendo primivas, o que parecem, dão-nos magnifico auxilio na vida do passado.

Almofala pertenceu ao concelho de Mondim da Beira até 26 de Junho de 1896; de 1896 a 1898 ao concelho de Armamar; a 13 de Janeiro de 1898 passou para o concelho de Castro Daire.

Havia em Almofala algumas espécies de mato como: tojo, silva, esteve, urgueira (urze), trovisco; cereais: milho, centeio, cevada; linho; batata, feijão; cebola; fava; ervilha; melancia; plantas hortenses. Lobos. Animais de caça. Peixes: Truta, bordalos, bogas, eiróses. Bicho da seda e abelhas.

A lenha que o vulgo denomina chamiços é vendida, para longe, por gente da serra (Almofala), que leva em molhos, ou ás costas, ou em jumentos, ordinariamente muito magros. Isto acontece quase todo Inverno.
Também nos baldios de Almofala se colhe mato para estrume, e se faz carvão cujo produto se aplica ás despesas da Igreja.

Habitantes em Almofala de 1828 a 1920

DataFogosHabitantesHomensMulheres
182836133
183636
185971
1864181182
1878197201
1890231223
1920127525

Em Almofala, na parte oriental do concelho de Castro Daire existe uma estrada lajeada a que o povo dá a designação de romana. Esta via continuou a ser usada até aos nossos dias e daí algumas alterações feitas no pavimento. Esta via, vinha de Tarouca e por Bustelo, Almofala, Corgo do Altar, Mourisca, Touro e Fráguas, prosseguia até Viseu. Em Almofala a via atravessa uma pequena ponte situada provavelmente no sítio da actual Ponte do Touro, onde a data de 1839 nos recorda certamente uma reconstrução.
Esta via seria a principal estrada romana da metade oriental do concelho e Castro Daire. No sítio da “Pedra d’Arca” existem duas mamoas quase inteiramente destruídas.


Almofala andou ligada, em plena Idade Média, ao convento cisterciense de Tarouca, que lhe ficava bem perto. Este era o primeiro mosteiro em Portugal daquela observância beneditina renovada. Sabe-se da especial predilecção destes monges por áreas relativamente isoladas, onde podiam à vontade desbravar terras despovoadas que cultivavam por administração directa, o que quase de imediato lhes trouxe excedentes agrícolas que bem sabiam comercializar. E sabe-se também como D. Afonso Henriques os protegeu, concedendo-les direitos e rendas em muitas terras já povoadas por então. Almofala foi uma delas.
Existia por certo como paróquia de agricultores, alguns deles documentados pelas doações e vendas que fizeram ao mosteiro, como um tal Múnio Rodrigues (em 1168), “para remédio de sua alma” e para servir a Deus na companhia dos frades, ou como é o caso, em 1143, de Gonçalo Mendes e sua mulher, que venderam uma terra sua, em Cabana de Mouros ao mosteiro. O mosteiro apresentava o pároco e geria os dízimos da paróquia.
Um século mais tarde (1248), já as dioceses estavam bem organizadas e interessadas em receber regularmente os seus dízimos em todas as paróquias, pelo que o Bispo e o Cabido de Lamego, tiveram de chegar a acordo com o mosteiro para receberem de Almofala dez moios de pão por cada ano, pagos no primeiro de Setembro. Mas o povoamento de Almofala foi seguramente muito anterior a estes acontecimentos registados por escrito no período da fundação da Nacionalidade portuguesa.
Pelos finais do Neolítico, um pouco por todo o concelho de Castro Daire e aqui também em Almofala surgem vestígios da presença humana permanente. Do seu “habitat” residente, nada chegou até aos nossos dias, certamente porque viviam em cabanas perecíveis.
Mas do seu costume funerário de construir grandes túmulos de pedra postas na vertical, a suportar uma grande lage de tampa, formando assim uma espécie de câmara onde depositavam os seus mortos, algo restou. Estes túmulos eram cobertos por terra e pequenas pedras, e como estavam no geral em pequenos planaltos bem visíveis, a memória toponímica conserva desses sítios, nomes como mamoas, arcas, orcas e orquinhas, antas e antelos.
Em Almofala, no sítio justamente chamado Pedra d’Arca, há vestígios de duas mamoas. Diz-se por lá que haverá outras nos sítios do Seixal e da Mourisca. Em Pedra d’Arca, terá mesmo existido um dólmen, a que o povo chamava “uma casinha”. Isto prova que por perto, talvez a uma certa distância, havia um povoado, com agricultura e pastorícia como base de sustentação económica. Um tempo, portanto, muito recuado para o povoamento inicial da freguesia.
Dos tempos posteriores, pouco se sabe, até que de novo encontramos documentação arqueológica da época romana. Trata-se duma via romana que passava em Tarouca, Almofala e Bustelo, a caminho do Corgo do Altar, Mourisca, Domingueiros, Fráguas até Viseu.
Em Almofala, esta via está bem documentada por um troço lajeado, tipicamente romano e, muito provavelmente, por uma pequena ponte, a ponte do Touro que, a ser romana, terá ruído em parte e sido reconstruída em 1849. Esta via, seria mesmo um via principal para o tráfego da época. De novo um período em que nos falta documentação até chegarmos ao século XII por onde se começou, isto é, aos tempos de Tarouca e seu mosteiro.
Quando se constituiu o concelho de Castro Daire, estas terras que no âmbito judicial pertenceram ao Julgado de Tarouca foram integradas nele.
Mas Almofala continuou integrada no concelho de Mondim da Beira. Em 1527, aquando dum numeramento geral da população, a freguesia era tida como uma “quitã” do mosteiro. Em 1758 tinha 36 fogos e 133 habitantes. Só em 1896, por extinção do antigo concelho de Mondim da Beira, a freguesia passou a fazer parte do concelho de Armamar e, dois anos depois, do de Castro Daire.
Almofala é um bonito aglomerado de casario simples, em torno da sua igreja matriz, reconstruída no século XVII. Da anterior já nada existe. Esta que serve a freguesia, tem no interior um bonito tecto forrado a caixotões pintados com motivos florais e cinco altares com retábulos de talha dourada, do século XVIII.
O retábulo do altar-mor é formado por um camarim entre duas colunas, que emolduram um trono com uma “glória” e os nichos da Santíssima Trindade e de São Miguel.